A 32å Bienal de São Paulo, sob curadoria de Jochen Volz, busca abrir nossa mente para novas percepções após o apocalipse dos grandes ideais da nossa civilização. Incerteza Viva é uma aposta na capacidade humana de transformação. Demonstra que muitas possibilidades estão em nosso futuro e que não precisamos seguir com os padrões estabelecidos de entendimento que nos levam a tanto progresso mas também à tanta destruição. A Bienal demonstra que as formas que utilizamos para ordenar e conhecer o mundo são incertas. Nada é fixo, tudo se transforma. Hoje podemos voltar e olhar a História com outros olhos. Podemos ver que as demarcações, descrições e delimitações que usamos para viver podem, e devem, ser mudadas.
O sul-africano de 34 anos Dineo Seshea Bopape apresenta em seu trabalho as fronteiras psíquicas demarcadas por povos através de seus territórios, um fenômeno que se repete em qualquer lugar do mundo desde o início da humanidade. Essas marcas são outras formas de entender o mundo.
Os artistas da Bienal propõem modos alternativos para superar os padrões rígidos de conhecimento que nos norteiam.
A instalação da polonesa Pia Lindman, de 57 anos, questiona as maneiras como encontramos o mundo. Como moramos, como vivemos e nossa relação com os outros seres que habitam ao nosso redor. Seu trabalho me fez pensar que devemos sair do “meu mundo” e ir ao “nosso mundo”. Para isso temos que abrir novas percepções, desafiar os sentidos.
O brasileiro Cristiano Lenhart de 42 anos, traz suas capivaras de inhame e brinca com nossa mania de estar sempre buscando encaixar as coisas que vemos em formas já conhecidas. Uma maneira lúdica de demonstrar que temos padrões típicos de compreensão.
Com isso os artistas buscam mostrar que podemos ver além e experimentar o mundo de forma diferente. Vivian Cucuri, 32 anos, de São Paulo, nos leva a espaços delimitados pelo som onde somos envoltos por ondas sonoras que reverberam no fogo e trazem à tona lembranças inconscientes em sua obra Tabom Bass.
Readymades e assemblages, sob a ótica de uma Bienal, são transformados em arte. Os artistas nos fazem ver materiais diversos pela sua característica estética. Mas as obras não são apenas para a pura contemplação estética como antigamente, elas exaltam o papel fundamental da arte de hoje, de agir na realidade de forma prática. A Bienal traz temas úteis para a mesa, mas sem deixar de fora o lado mágico da vida. Como a política já perdeu muito de sua credibilidade, a arte parte de um posicionamento descompromissado e utiliza suas ferramentas poéticas para tratar de assuntos de utilidade pública.
Questões ecológicas e políticas urgentes estão sendo tratadas. Muitas atividades que visam botar essas questões em foco na mente de crianças e jovens permeiam a programação. Assim a Bienal cumpre sua proposta de abrir nossa cabeça para as incertezas do mundo, saímos de lá ativando ainda mais as perguntas fundamentais da vida como: De onde viemos e para onde vamos?