Muitos me perguntam, por quê, depois de tantos percursos de trabalho diferentes – passando pela imprensa, redação publicitária, cinema, curadoria de exposições, galerista, coordenadora de centro cultural e crítica de arte – quis me tornar professora?
Minha primeira resposta é a de que encontrei nesse meio dispositivos mais efetivos para abrir cabeças e transformar o mundo, que sempre foi meu propósito, minha missão na Terra. Trabalhar com crianças permite criar esses dispositivos na origem, implantando-os na formação inicial humana. Educação como uma forma de arte – Transgressora, para mudar o mundo. Depois, percebi que todas as áreas em que trabalhei tinham essa possibilidade de transformação inata, em comum entre elas.
Ser professora me permite viver sempre em encantamento e manter uma visão artística do mundo. Ver, perceber, contextualizar e recontextualizar, podendo transformar e manter uma mente sempre aberta para as mudanças, transfigurações mágicas que a arte proporciona. Nas exposições que participei, nos meus escritos, sempre embalados por essa visão artística de mundo, com referências de Arthur Danto, que menciona a obra de Andy Warhol, Brillo Box, como um exemplo da transfiguração do objeto comum. Duchamp como libertador de uma arte transgressora, contribuindo para vermos as coisas do cotidiano de forma artística. A poesia que está em todas as coisas, exaltada por Machado de Assis, nas relações, como nas obras de Lygia Clark, me permitem trazer para a sala de aula esse espírito artístico que existe em essência e é captado tão naturalmente pelas crianças.
Criar as propostas em sala de aula é como gerar uma exposição, estar atenta às reações, os percursos que cada um vai seguir. Espaços onde se produz subjetividades artísticas, campos de experimentação onde se encontram processos individuais com coletivos, de participação, de interferências, de silêncios e vozes que permeiam produções poéticas, reinvenções de suas próprias práticas e práticas dos outros, tudo isso acontece diante da forma de organizar a aula. Gosto de trabalhos coletivos, onde experimentam e aprendem uns com os outros. Como professora, promovo esses dispositivos onde despertam para o viver artístico coletivamente.
Abrir as cabeças para enxergarem novas possibilidades, acionar esses dispositivos de transformação, deixar atentos e conscientes dessa prática libertadora é o meu papel como artista na sociedade, minha prática docente me representa como ser artístico. Saber que estou contribuindo com mentes aptas para acionar esses dispositivos de transformação me faz sentir realizada.