A exposição II II II foi apresentada no Rio de Janeiro no dia 11/11/11.
Uma câmera dos sentidos criada pelo Coletivo Moleculagem e a curadora Manoela Bowles levaram os participantes por uma viagem que desafiou espaço e tempo para mostrar que nós construímos a realidade. Projeções tridimensionais e sons atmosféricos foram os meios utilizados para gerar uma experiência transcendental nesta instalação imersiva.
Os artistas Sol Galvão, Alexandre Aranha e Pedro Conforti criaram uma estrutura habitável onde a mágica aconteceu. Em uma analogia à alegoria da caverna de Platão criaram um igloo onde as pessoas entravam para participar desta experiência de provocação dos sentidos para ampliar a consciência. Ao demonstrar que o tempo e o espaço podem ser modificados com a alteração dos sentidos a exposição buscou gerar a compreensão de que nossa realidade depende de como a percebemos.
Os sentidos foram ativados pelas imagens tridimensionais projetadas em toda a superfície e pelo som que também os cercava com freqüências binaurais. Os participantes foram englobados em uma esfera totalmente fora do comum. Deitados em círculo, cada um com seu headphone, recebiam os estímulos de uma realidade abstrata para ativar percepções além da Razão.
Andamos pelo mundo percebendo coisas de acordo com uma lente que criamos baseada em concepções pré-fixadas. Ciência e Religião, por exemplo, são sistemas de compreensão que nos dirigem. Mas podemos mudar nossa forma de ver as coisas, basta abrir nossa mente para novas percepções.
A linguagem é um código criado para traduzir nossas experiências de viver no mundo. Desde os primeiros hieróglifos até os computadores de hoje, tudo é codificado. Mas existem muitas coisas que não podem ser expressas em códigos e geralmente nos esquecemos delas.
II II II traz essas experiências que não podem ser descritas, apenas sentidas. É um convite para se libertar dos padrões fixos de entendimento e abrir nossa mente para novas dimensões de realidade.
As pessoas se prendem em uma realidade única e por isso existe tanto desentendimento, por defenderem uma verdade. Chegamos no momento de entender que não existe uma verdade absoluta, tudo depende do contexto e da experiência de cada um. Quando atingirmos essa compreensão todos poderão se unir e acabar com tanta destruição. Os Budistas já diziam, a realidade é uma ilusão, nós somos o todo e tudo está dentro de nós.
Hoje a Física Quântica chegou a provar que existem universos paralelos e que a realidade muda de acordo com a atenção do observador. Uma transformação gigante de paradigmas está ocorrendo e a exposição II II II faz parte disso.
O símbolo II II II é abstrato, cada pessoa pode dar o significado que quiser. É uma forma de mostrar que tudo é relativo.
A forma do moebius que também faz parte da imagem de divulgação se refere ao infinito, já que a exposição tem infinitas possibilidades de interpretação. Basta sentir.
A data 11/11/11 pode estar carregada de significados como pode ter nenhum sentido. Mas pela repetição de números é uma data especial. O valor que se dará a ela depende do que cada pessoa acredita. Se acredita que especial, ela será. Nossa crença constrói nosso mundo, no meio de toda essa relatividade precisamos acreditar no que escolhemos para construir nossa realidade. Estamos livres para construir da maneira que quisermos. A imaginação é uma ferramenta poderosa nesse sentido. Ela pode transformar o mundo para pior ou para melhor. Depende de nós mesmos.
A arte abstrata pode ser um veículo para gerar uma interpretação própria para cada pessoa, ela não tem um sentido fixo. Gera sensações e abre nossa mente para pensamentos que vem de dentro, sem estar direcionado por uma linguagem simbólica. Assim podemos acessar nosso interior e sair do plano da Razão.
Essa é proposta do II II II. Através da contemplação de imagens e sons abstratos as pessoas podem ver além. Durante a apresentação elas se sentiram relaxadas, deixaram seus pensamentos correrem livremente. O som e as imagens criaram uma conexão sensorial, muito mais forte que a racional, foi uma sensação sublime. De acordo com relatos das entrevistas com os participantes realizadas ao saírem da instalação. Uma experiência difícil de explicar.
Em um mundo de múltiplas possibilidades de percepção é preciso um guia para levar a uma certa experiência em comum. Esse foi o papel da curadora no II II II. Manoela Bowles criou uma tese que serviu como denominador comum. Porém, embora muitos não leram o texto antes de entrar, muitos puderam sentir o que havia sido proposto na exposição.
Existe muito mais para ser experimentado na instalação além da proposta que era unir arte, filosofia, ciência e espiritualidade para que as pessoas pensassem sobre a realidade ao seu redor e sua posição no mundo. Com o II II II a curadora pretendeu gerar uma plataforma para o autoconhecimento e discussão sobre a experiência vivida para ser compartilhada por todos e levadas para a vida.
Para isso ela convidou os artistas do Coletivo Moleculagem para construir a nau que levaria os participantes nessa viagem. O grupo de artistas visuais carregam no currículo projetos com cinema, publicidade, cenografia, etc. Se juntaram para criar instalações que tem a multidisciplinaridade como substância e principal característica. Seus membros, Sol Galvão, Alexandre Aranha, Pedro Conforti, Bernardo Varela e Pablo Ribeiro criaram o Coletivo Moleculagem em 2005 e desde então fizeram muitas instalações de arte pelo Brasil e Estados Unidos.
A curadora e os artistas compartilham do mesmo interesse e conectaram as idéias ao investigar maneiras de expandir a consciência. Eles pesquisaram as teorias da mente e energia de Henri Bergson, passando pela cultura psicodélica, para encontrar uma forma de induzir essas explorações da consciência.
Os artistas sugeriram que o trabalho fosse construído baseado no Tetractys, uma forma mística da geometria de Pitágoras. Tudo para compor o cenário perfeito para essa experiência transcendental que uniu ciência e espiritualidade através da arte e da tecnologia.
A tecnologia pode ativar circuitos neuro-elétricos e nos possibilita perceber a nossa própria consciência ao ativar as células do lado direito do cérebro. Nossa percepção está baseada nas limitações impostas pelo lado esquerdo do cérebro responsável pela lógica e pelos padrões que nos guiam pelo mundo. Nos adultos, a parte direita, responsável pela intuição, está enfraquecida.
Com o II II II tentamos reverter isso ao ativar a intuição gerando um choque nos sentidos da pessoa que faz com que ela se torne mais consciente de si e ela passa a perceber sua própria percepção. Dessa maneira ela ativa o lado direito do cérebro, mudando os padrões de entendimento e expandindo assim sua consciência.
O visitante pôde usar o igloo como uma máquina de alteração da percepção. Ao entrar sua mente já estava sendo preparada, através das imagens e freqüências sonoras, para perceber de uma forma diferente.
Deitado no chão, ele tinha a impressão de estar caindo ao ver as imagens de túneis projetados em 3D à sua frente. Cada vez mais rápido. Mas sem sair do lugar. Passando para um ambiente mais calmo, tranquilo onde imagens abstratas de cores plácidas o abraçava, gerando outras sensações. Estava imerso em um mundo que gerava sentimentos que não dependia de sua participação física. Como na alegoria da caverna de Platão, as aparências o levavam a uma experiência de realidade que na verdade é uma ilusão.