Kandinsky – CCBB RJ – até 30.03.2015

“Kandinsky – tudo começa num ponto” traz pela primeira vez à America Latina uma exposição das obras deste grande ícone da arte abstrata de uma forma holística. Não é uma exposição retrospectiva, cronológica, mas narrativa. Composta por obras do acervo do Museu Estatal Russo de São Petesburgo, além de obras de museus do interior da Rússia e coleções particulares.

São 72 peças entre objetos decorativos e vestimentas xamânicas montados para recriar a trama de influências e transpor a essência deste artista revolucionário. Os curadores Eugenia Petrova e Joseph Kiblitsky buscam compor e contextualizar o palco onde se deu a revolução do abstracionismo pelas mãos de Kandinsky, valorizando assim a cultura russa.

A exposição tenta expor a sensibilidade do artista através da arte popular, mítica, dos povos ancestrais do Norte da Rússia, além de obras de outros artistas que o influenciaram e poucas mas boas obras de sua própria autoria. Um salto para o vazio, já que não entende fronteiras ou determinações. É composta por sentimentos e emoções, sensações que traduzem  o artista melhor que palavras.

Kandinsky seguiu a tendência do fim do século XIX de fugir do naturalismo e representar a natureza de forma mais subjetiva. Na série “O Rio” (1901-1903) vemos a influência do Impressionismo, quase beirando o pontilhismo, por assim dizer: “Tudo começa num ponto”.

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Em “Igreja Vermelha” (1901-1903), vi na representação da igreja uma similaridade com as caixas decoradas, também presentes na exposição. Uma forma de ir puxando aos poucos os traços que foram levando o artista para o caminho da abstração. Nas têmporas do fim do século XVII imaginei Kandinsky intrigado com a maneira como as cores sobrepõem às formas para logo verificar a influência em suas xilogravuras, como por exemplo em “Oriental”(1913).

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Mas foi com a obra “São Jorge” que a transposição de todas as suas referências aparecem em uma explosão da figuração em cores e sensações onde apenas o título remete ao conteúdo, o resto é puro sentimento.

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Ao entrar na sala 3 nos deparamos com a obra em grande formato “Eclipse Total” (1904) de Alexander Borisov enquanto a trilha sonora do filme “O Cavaleiro Azul” toma conta do ambiente contribuindo ainda mais para a sensação de sublime provocada pelas obras presentes na sala. Uma sensação abstrata, mas tão forte, como o essência de Kandinsky.

Em outra sala, roupas, lanças e cocares dos povos ancestrais estão presentes ao lado de seus quadros “Improvisação 11” (1910) e “Improvisação 209”(1917) que me trouxe à tona referências de animais pelo simbolismo e pela presença daquela energia xamânica.

IMG_6631Em Kandinsky, as formas tomam o poder para si mesmas, não é necessário qualquer representação, elas têm um movimento próprio, habitam seu próprio mundo, como se tivéssemos acesso ao mundo dos seres luminosos dos contos xamânicos. Seres disformes que se dissolvem em cores diante do olhar. Não sei se o poder está nas formas ou nas cores, só sei que a composição te toma de assalto e te mostra que sentimentos e sensações te levam a um mundo fora do comum, além da razão.

Esse artista revolucionário quebrou padrões para apresentar uma nova forma de arte mas sem negar o passado, pelo contrário, buscou nele referências para a transformação, para a transcendência dos limites. O que mais me aproxima dele é o fato de fazer isso não de forma dura como no Suprematismo, mas de uma forma leve, espiritual, mas nem por isso menos radical.

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Após Kandinsky as formas passaram a ter autonomia, não precisam representar algo externo a elas.  Possuem força em si mesmas, força emocional, sentimental e portanto muito mais poderosa. Temos que resgatar em nós essa força, que vai além do racionalismo, e nos conectar novamente com a força dos sentimentos. Esse conhecimento os xamãs já tinham e hoje foi perdido.

A  exposição oferece uma imersão total no mundo de Kandinksy de uma maneira compreensível que vai além da razão. É uma dádiva poder estar diante de suas obras atemporais. E o melhor é que é grátis!

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