A Reinvenção da Pintura – Abraham Palatnik no CCBB RJ

Depois de passar por São Paulo, Brasília, Porto Alegre e Curitiba a retrospectiva “A Reinvenção da Pintura” traz para o CCBB RJ até o dia 24 de abril obras variadas do artista Abraham Palatnik (1928) e de artistas que o influenciaram, como os pacientes da Dra. Nise da Silveira. Nascido em Natal, Palatnik foi morar na Palestina com a família aos 4 anos de idade. Lá estudou mecânica e física, disciplinas que sempre o acompanharam em suas criações artísticas. Além de seus quadros cinéticos que o tornaram conhecido como parte do núcleo de arte abstrata-concreta do Brasil em 1948 e um dos pioneiros da arte cinética no mundo, a exposição traz Aparelhos Cinecromáticos e Objetos Cinéticos, entre outras maravilhas. Palatnik é dono de uma técnica minuciosa que embora aparente parece desaparecer deixando a ilusão reinar como mágica. Assim ele nos ensina a ver o que está por trás das ilusões.

A exposição com curadoria de Felipe Scovino e Pieter Tjabbes abre com uma obra de 2016 em relevo que majestosamente apresenta a técnica utilizada por Palatnik que faz com que espaço e tempo, dentro e fora se misturem. As formas saltam aos nossos olhos e vemos o quadro como uma atmosfera em si mesmo. Ao lado, outra obra mais antiga segue o mesmo caminho e nos transporta para um mundo de ilusão de ótica. Mas se pararmos para perceber, vemos que é pintura e não relevo como na primeira. Suas obras tem o poder de nos fazer perceber a nós mesmos percebendo.

Os detalhes milimetricamente pensados possuem claramente uma influência construtivista. Mas ao saltar da tela passam a esfera da experiência, que vai além do conceito. Nos passa a sensação de tempo e espaço metaforicamente, potencializando o poder da arte nesse sentido. Essa transição da esfera do racional para a da experiência que o fez ser parte do Grupo Frente que rompeu com o Concretismo para gerar o Neoconcretismo, junto com Hélio Oiticica e Lygia Clark, entre outros. Foi ao acompanhar o crítico Mário Pedrosa que Palatnik encontrou nos artistas da Dra. Nise da Silveira no Engenho de Dentro uma expressão mais pura que não passava pelos ensinamentos das escolas de arte e isso abriu sua cabeça para iniciar sua pesquisa no campo de luz.

A desconstrução dos modos de ver está presente em seus objetos e painéis cinéticos que nos trazem a um espaço-tempo próprio de cada obra. Nos trazem sensações metafóricas que faz poder chegar a ouvir a música criada pelo movimento de seus Objetos Cinéticos. Observar suas obras nos leva a um estado meditativo, quase transcendente. O movimento, tanto do espectador em volta da obra quanto do próprio objeto, é a essência do seu conjunto de obras e de sua visão de mundo. Tudo está em movimento, nada é fixo, tudo se transforma diante dos nossos olhos. Suas obras rompem barreiras, não é pintura nem escultura, é tudo ao mesmo tempo agora, como no universo.


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Palatnik recorre ao movimento para que suas formas ganhem presença no espaço. Assim ele busca ampliar as fronteiras do conhecimento. Apesar de serem feitas artesanalmente, suas formas fluidas deixam a técnica para trás e apresentam o efeito. A exposição traz uma provinha de como era o atelier do ilusionista com algumas ferramentas que utilizava. Mais uma oportunidade de ver por trás da mágica. A mecânica de seus Objetos Cinecromáticos parecem as de uma caixa de música, talvez por isso a sensação de ouvir música sair de cada uma delas.

É impressionante ver a técnica que utilizou para montar os quadros de recorte em cartão duplex, parecem feitos em uma impressora 3D. Uma prova de que Palatnik era um artista visionário. Ao trazer para diante de nós objetos que se apresentam como seu próprio espaço e tempo em movimento, nos joga no meio dessa dança e nos faz perceber a ilusão. Ensina que devemos buscar ver além ou por trás da mecânica que constrói o mundo como conhecemos.

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