A exposição itinerante reúne séries desenvolvidas ao longo da carreira de João Machado e traçam seu percurso em um conjunto de obras que tecem conceitos sobre a espiritualidade, a natureza e o tempo. Com curadoria de Antonio Cava, a mostra “Atlas” já passou por Salvador, Curitiba e agora chega ao Rio de Janeiro onde ficará até 9 de março.
Seus “Mapas” aparecem tanto como ilustração da organização da exposição quanto dos recursos que usamos para entender o mundo e a nós mesmos. Colagens de pedaços independentes que se agrupam até formar uma imagem, uma representação de uma ideia que usamos para compreender ao juntar as peças do quebra-cabeças da vida.
Suas obras são bem autobiográficas. Marcas, traços de momentos de interiorização do artista que transforma sua experiência em expressão. A série “Sílex”, por exemplo, é fruto de um sonho que teve e que transformou no filme “Natureza Inquieta”. Uma pedra levemente esverdeada que ele encontrou em um antiquário e que se reproduz em diversas imagens, em diferentes mídias, guache sobre papel, fotografia, etc.
João estudou Cinema e já realizou diversos filmes. Algumas obras suas, como os livros esculpidos, usam livros de Hitchcock e geram uma ponte entre o mundo da arte e do cinema, uma das várias conexões presentes no atlas de sua carreira. Seus filmes são bem profundos, camadas que se revelam como em suas colagens. Para ele, todos somos uma colcha de retalhos de influências que adquirimos ao longo da vida.
Para essa exposição João criou a vídeo-instalação “O tempo é a verdade do homem,” fruto de um retiro que fez em Visconde de Mauá onde passou 30 dias sem falar. Daí vieram insights, verdades absolutas nascidas de uma imersão total na natureza que ele transformou em arte com o intuito de despertar seu potencial transformador. O resultado realmente é poderoso, faz pensar na relação do homem com a natureza, nosso papel no mundo.
É com a série de esculturas com ossos de baleia, que transportou da Praia da Solidão em Santa Catarina até seu atelier, que esse deslocamento – tão presente em sua obra e em sua vida – aparece como o significado mitológico da barriga da baleia. Representa o ventre onde ocorrerá a transformação do homem em herói, segundo Joseph Campbell. Uma transformação que todos nós devemos passar para nos colocarmos em comunhão com a natureza. Adepto de Joseph Beuys no que diz respeito à responsabilidade do artista para conscientizar a sociedade sobre a natureza, João diz: “Precisamos ampliar nossa maneira de enxergar a questão ecológica. Trabalhar a serviço da sociedade, em defesa da natureza e em defesa da natureza do homem”.