Entrar na exposição “Le Parc Lumière” é como entrar em um parque de diversões. Os jogos de luzes e espelhos em movimento levam o espectador a espaços ilusórios criados a partir de construções que parecem bugigangas mas são muito bem feitas. Dá vontade de olhar para saber como é feito, ver de onde vem os efeitos. Tangenciando o cinema e o parque de mágicas ele consegue captar em essência o espírito dos anos 60 quando as obras foram criadas. A exposição também tem um viés científico onde espelhos e projeções utilizam a reflexão e a refração para criar desenhos e texturas incríveis para que os olhos do espectador se esbaldem. Entre as belas artes e a decoração, suas traquitanas cinéticas poderiam até ser usadas em festas ou eventos para animar o público que não precisa ter conhecimento das artes para aproveitar. É a obra de arte total.
O artista argentino usa tecnologias simples para pintar com luz. Criando camadas, texturas e formas orgânicas que lembram células e peles em um momento e explosões como o big bang em outros. Nos faz pensar no princípio primordial de tudo e como a linha de pensamento do artista é frutífera. Daria para explorar, nessa delicadeza tecnológica e material, todo o sentido da vida. Mas fica óbvio que Le Parc é influência originária de muitos movimentos de arte contemporânea que vemos por ai, principalmente na arte digital com seus 3D mappings, e nas listras de luz que ele já fazia antes da era do laser. Desenha grades para criar dimensões utilizando a perspectiva para brincar com os sentidos do visitante. Algumas de suas obras dão uma forte sensação de vertigem. Especialmente uma com uma máquina barulhenta ao centro que mexe para cima e para baixo projetando feixes de luz e produz um efeito que parece que o espaço inteiro está se movendo, que nosso corpo é que está indo para cima e para baixo. As máquinas bastante “precárias” parecem motores de barcos ou máquinas de lavar. Até os botões de algumas de suas peças interativas lembram as naves espaciais de filmes de ficção científica dos anos 60.
Em um dos poucos trabalhos com cores Le Parc utiliza o vermelho e o verde, cores primárias, para criar um efeito óptico. Suas caixas de luz (muito bem construídas, mas que parecem terem sido feitas sem muito esforço) dão a impressão de profundidade infinita. Me pareceu querer dar um toque de humor ao usar um ventilador e um material que parece papel higiênico voando, um efeito lindo com uma técnica simples, como experiências de laboratório de física que qualquer criança pode fazer em casa. Mas alguns efeitos são difíceis de decifrar, como em uma instalação com móbiles de quadrados transparentes que ao imprimir sua sombra no chão aparecem minúsculas grades que não se sabe de onde vêm. É nesse mistério que fica o toque de mágica.